A participação de Luiz Inácio Lula da Silva como chefe de Estado no 3° Fórum Social Mundial e a confirmação da vinda do polêmico presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que desembarca domingo na Capital, não condizem com a carta de princípios do evento. O documento proíbe a participação oficial de governantes nas atividades coordenadas pelo conselho de organização. Na edição do ano passado, foram vetadas as presenças do primeiro-ministro da Bélgica, Guy Verhofstadt, e do vice-presidente do Banco Mundial, Mats Karlsson.
Entretanto, Francisco Whitaker, membro da Coordenação Internacional do evento, lembrou que a presença do premier belga foi negagado “porque ele mesmo se convidou e queria ter espaço no programa para uma fala oficial. Não foi uma proposta das organizações participantes”. Whitaker esclareceu ainda que a vinda do presidente brasileiro não desvirtua o princípio válido para as edições anteriores. O organizador argumentou que não há qualquer incongruência na participação de Lula, uma vez que, então como presidente de honra do Partido dos Trabalhadores e engajado nos movimentos sociais, o petista participou do Fórum em 2001 e 2002. “E nós não podemos impedir as organizações que integram o evento de convidar governantes para os seminários que promovem. E este é o caso de Chávez, que vem convidado para participar de um painel sem a intermediação da organização official”, garantiu.
Também integrante do comitê internacional de organização, o sociólogo Emir Sader tem outra opinião. Para ele, é incoerente vetar a participação de qualquer chefe de Estado que subscreva uma carta condenando frontalmente as políticas neoliberais. No ano passado, Sader justificou a negativa à vinda das duas personalidades internacionais devido à simpatia de ambos pelo neoliberalismo. Segundo o sociólogo, Fórum é um espaço de construção de alternativas ao neoliberalismo e não um encontro para polemizar com seus defensores.
Membro do comitê nacional de organização do 3º Fórum Social Mundial, o presidente da Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (Abong), Sérgio Haddad, é categórico. “A vinda de Lula e Chávez não contraria a carta de princípios do encontro, pois Lula e Chávez não foram convidados pelo conselho“. Conforme Haddad, o presidente brasileiro representa uma das instâncias do poder público nacional, assim como o prefeito João Verle (PT) e o governador Germano Rigotto (PMDB). Haddad completou que, nas edições anteriores, "não fazia sentido" convidar o então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), pois FHC sempre se pronunciou publicamente contra o Fórum, que considerava "um atraso". “ Já Lula sempre participou e, neste ano, apoiou financeiramente o Fórum. Ele veio como mais uma autoridade nacional que recepciona os participantes, assim como o prefeito e o governador“.
Quanto à vinda de outros líderes de Estado, o presidente da Abong também afirmou que os organizadores não podem impedir as entidades de convidarem os estadistas que quiserem agregar a seus painéis e seminários. A participação de Chávez, reiterou, foi decidida por uma ONG.
Representante de Lula na cerimônia de abertura do evento, o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, negou que a participação de integrantes do governo federal seja contraditória em relação aos princípios do Fórum. “O presidente Lula estará participando do Fórum como sempre fez. Eu, por exemplo, estou participando pela terceira vez. Foi um orgulho participar como militante social e militante político oposicionista, e é um orgulho participar como representante do governo“.
Fabiane Dal-Ri
Agência RBS