Se depender da vontade de um dos principais idealizadores do Fórum Social Mundial, Bernard Cassen, a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no 33º Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, servirá para que o petista diga "verdades" aos líderes mundiais. Diretor do jornal francês Le Monde Diplomatique e ex-presidente da Associação pela Tributação das Transações Financeiras (Attac), ONG que protesta contra as políticas do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial e da Organização Mundial de Comércio, Cassen acredita que o maior efeito do Fórum é a aglutinação das forças antiglobalização.
De Paris, antes de seguir para Belém (PA), onde participa do Fórum Pan-Amazônico, que se encerra domingo, Cassen concedeu ontem a seguinte entrevista por telefone a Zero Hora:
Zero Hora - A viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Davos não fortalece o Fórum Econômico Mundial, ao qual o Fórum Social Mundial tenta estabelecer um contraponto?
Bernard Cassen - É verdade que, num certo ponto de vista, a presença de Lula vai dar força a um organismo que era moribundo, que está para morrer por falta de legitimidade. Mas muito depende do que Lula vai dizer ao público de Davos, do tom do seu discurso. Ele, como representante de um grande país e também porta-voz de uma grande parte da América Latina e de muitos outros países, deve dizer suas verdades e falar das responsabilidades deles. Esperamos que seja a primeira e única vez que Lula vá a Davos.
ZH - Que efeitos o senhor considera que o Fórum Social Mundial produziu nos últimos três anos?
Cassen - Creio que o Fórum teve um impacto enorme no mundo, aliado a um processo de aglutinação das forças que se opõem à globalização neoliberal. Há um grande impacto sobre todas as forças políticas. Sabe-se, sim, que existe uma força global que se opõe a esse processo. É uma força que inspira as lutas. Eu diria que o nome "Porto Alegre" tem um enorme impacto no mundo hoje.
ZH - O senhor concorda com a mudança do Fórum Social Mundial para outro continente?
Cassen - O Fórum é mundial e pode se organizar em qualquer país do mundo se forem reunidas as condições necessárias. Por exemplo, se a cidade fosse Paris, se chamaria Fórum Social Mundial de Porto Alegre em Paris. Sempre o nome Porto Alegre iria no título. De qualquer maneira, não sei qual será a decisão do comitê internacional na próxima semana. Porto Alegre terá um fórum, pelo menos regional. Isso será um ponto absolutamente claro.
ZH - O que o 3º Fórum Social Mundial pode decidir em relação à iminência de uma guerra dos Estados Unidos e seus aliados contra o Iraque?
Cassen - É evidente que as aventuras criminosas de Bush (George W. Bush, presidente dos Estados Unidos) vão estar muito presentes nos debates, mas haverá muitos outros pontos porque há problemas que se colocam desde setembro de 2001. A guerra é uma preocupação em nossas cabeças, mas não é a preocupação exclusiva. Durante o Fórum haverá plenárias de movimentos sociais, que seguramente vão fazer uma declaração forte contra a política criminosa de Bush.
ZH - Como o senhor avalia a eleição do ano passado para o governo gaúcho, na qual o PT sofreu uma derrota? Houve um enfraquecimento do Fórum Social Mundial?
Cassen - Creio que isso não deve ser avaliado pelo aspecto financeiro, pelo apoio que o novo governo possa dar ou não ao encontro. O Fórum é independente de quem está no governo do Rio Grande do Sul. Se não se consegue dinheiro com o governo, se consegue em outras partes. Então, esse aspecto não vai afetar de nenhuma maneira o êxito do Fórum.
Eliane Iensen - Agência RBS