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Date :  2002-03-04
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Solidariedades (Mundialização das...)

Solidariedades

Source :  Michael Löwy


A resistência à globalização capitalista neoliberal ao imenso poder das multinacionais e dos mercados financeiros, aos oukases do FMI e da OMC assumiu a forma, desde Seattle (1999), de um vasto movimento social em escala planetária, dentro do qual se organiza aos poucos a mundialização das solidariedades. Este movimento distingue-se, pelo seu caráter decididamente universalista, das diversas manifestações ditas “antimundialistas” ou de caráter retrógrado, fundamentalista, nacionalista, xenófobo ou intolerante, de natureza étnica ou religiosa – cujo exemplo mais espetacular é o atentado terrorista das Torres Gêmeas de Nova York (11 de setembro de 2001).

Esse movimento não é “antimundialista” de modo abstrato. Ele se opõe à forma – capitalista e liberal – que assume a corporate globalization (a globalização das empresas) com seu cortejo de injustiças e de catástrofes: desigualdades crescentes entre Norte e Sul, desemprego, exclusão social, destruição do meio ambiente, guerras imperiais. E seu objetivo não é fechar novamente a nação, a etnia, a tribo ou a comunidade religiosa, mas uma outra mundialização. “Um outro mundo é possível!” era a palavra de ordem do Fórum Social Mundial de Porto Alegre, cuja terceira edição, em fevereiro de 2003, reuniu aproximadamente cem mil pessoas. Ao invés de “antimundialista”, esse movimento pode portanto ser chamado de altermundialista.

As solidariedades que nascem no interior dessa vasta rede – tanto nas grandes manifestações de rua, como em Seattle (1999), Praga (2000), Gênova (2001), quanto nos locais de discussão e reflexão coletiva, como o Fórum Social Mundial – são de um tipo novo, diferente daqueles que caracterizaram as mobilizações dos anos 1960 e 1970.

Nessa época, a solidariedade internacional mobilizava-se em apoio a movimentos de libertação, seja nos países do Sul – revoluções argelina, cubana, vietnamita – ou na Europa do Leste, com os dissidentes poloneses ou a Primavera de Praga. Um pouco mais tarde, nos anos 1980, foi a vez da solidariedade com os Sandinistas na Nicarágua, ou o Solidarnosc na Polônia.

Essa tradição, generosa e fraterna, de solidariedade com os oprimidos, não desapareceu, longe disso, no novo movimento contra a corporate globalization, que começou nos anos 1990. Um exemplo claro disso é a simpatia e o apoio ao neo-zapatismo, desde a revolta dos indígenas do Chiapas, no dia 1° de janeiro de 1994. Mas o que surge então é algo novo, uma mudança de perspectiva. Em 1996, o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) convocou nas montanhas de Chiapas um Encontro Internacional – chamado ironicamente de “intergalático” em alguns discursos do sub-comandante Marcos – contra o neoliberalismo e pela Humanidade. Os milhares de participantes, vindos de 40 países, que assistiram a esse encontro – que pode ser considerado como o precursor do que se chamará mais tarde “o povo de Seattle” – tinham certamente ido até lá também por solidariedade com os zapatistas. Mas o objetivo do encontro, definido por esses últimos, era muito mais amplo: a busca de convergências na luta comum contra um adversário comum, o neoliberalismo, e o debate sobre as alternativas possíveis para a Humanidade.

Esta é, portanto, a nova característica das solidariedades que se tecem no interior ou em torno do movimento de resistência global à globalização capitalista: o combate por objetivos imediatos comuns a todos – por exemplo, a taxação do capital especulativo, a abolição dos paraísos fiscais, o fim da OMC, a moratória em relação aos transgênicos, a igualdade salarial para as mulheres – e a busca comum de novos paradigmas de civilização. Em outros termos: ao invés de uma solidariedade com, é uma solidariedade entre organizações diversas, movimentos sociais ou forças políticas de diferentes países ou continentes, que se ajudam mutuamente e se associam num mesmo combate, diante de um inimigo planetário.

Para dar um exemplo: a rede camponesa internacional Via Campesina reúne movimentos tão diferentes quanto a Confederação Camponesa francesa, o Movimento dos Sem-Terra (MST) do Brasil ou associações rurais na India. Essas organizações se apoiam mutuamente, trocam suas experiências, e agem em conjunto contra as políticas neoliberais e seus adversários comuns: as multinacionais da agro-indústria, os monopólios das sementes, os fabricantes de produtos transgênicos, os grandes proprietários de terras. Sua solidariedade é recíproca e eles constituem juntos um dos mais poderosos e ativos componentes do movimento mundial contra a globalização capitalista. Um componente que se preocupa não apenas com reivindicações imediatas, mas também com projetos de sociedade alternativos.

Poderia-se dar outros exemplos, nas áreas sindical, feminista – a Marcha Mundial das Mulheres –, ecológica ou política. Certamente, esse processo de revitalização das antigas solidariedades e de invenção de novas solidariedades ainda está começando. Ele é frágil, limitado, incerto e certamente incapaz, por enquanto, de ameaçar a dominação esmagadora do capital global e a hegemonia planetária do neoliberalismo. Mesmo assim, ele constitui o lugar estratégico onde se elabora o internacionalismo do futuro e, talvez, um novo paradigma de civilização: a civilização da solidariedade.


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