Um foi condecorado pela capacidade de defender a paz, o outro representa o poder dos organismos econômicos internacionais. O Prêmio Nobel da Paz de 1980, o argentino Adolfo Perez Esquivel, e o vice-presidente para Assuntos Externos do Banco Mundial (Bird), o norte-americano Mats Karlsson, desembarcaram ontem pela manhã em Porto Alegre com uma hora de diferença e com o mesmo propósito: discutir a globalização. Mas com visões completamente diferentes. Esquivel veio participar do 2º Fórum Social Mundial e, entre vários debates, estará na mesa nas discussões sobre dívida externa. Karlsson foi orientado a não participar do Fórum Social para não aquecer os ânimos em razão do cargo que ocupa. Por isso, chegou de Washington ontem apenas para participar do último dia do Fórum de Autoridades Locais, que debate questões relacionadas à administração de cidades do mundo inteiro. Veja o ponto de vista destes dois convidados de honra:
"Globalização impõe pensamento único"
Zero Hora - O que o senhor espera do 2 Fórum Social Mundial?
Adolfo Perez Esquivel - A capacidade de gerar um pensamento próprio para enfrentar o pensamento único que nos impõe o atual sistema mundial.
ZH - Como chegar a essa meta?
Esquivel -A parte de cada pessoa é criar a condição de ser povo. Ser povo não significa muita gente reunida, mas sim muita gente com identidade, com espiritualidade e sentido de vida comuns. A alternativa de sobrevivermos como povos é unirmos os povos latino-americanos. No Mercosul, ao invés da competência mercantilista, há que se encontrar a cooperação. São valores totalmente distintos. Este modelo econômico coloca preço em tudo, mas sem valor. E preço e valor não é o mesmo.
ZH - A globalização, tão criticada pelos participantes do Fórum, está no caminho errado?
Esquivel -A globalização está impondo o pensamento único, com a massificação das consciências. Por isso temos que buscar os caminhos para a integração e impedir que a globalização provoque o cerceamento dos povos.
"O fundamental é colocar diferenças sobre a mesa"
Zero Hora -Como será a sua participação no Fórum de Autoridades Locais?
Mats Karlsson -Além de participar deste último dia do encontro do fórum de cidades, vim a Porto Alegre também para discutir e conhecer melhor alguns dos principais projetos que envolvem recursos do Banco Mundial (Bird). Depois de minha participação aqui nesta cidade, viajarei por
algumas cidades do país e deste Estado para observar de perto o andamento de tais projetos financiados pelo Banco Mundial.
ZH - Qual a sua visão sobre o tema central aqui discutido, que é a globalização, tão criticada pelos participantes do Fórum Social Mundial?
Karlsson -Eu já participei de muitos encontros como este, e do tamanho deste, cuja discussão central era a globalização e a propriedade. Na minha opinião, trata-se de um vibrante debate internacional, e bastante atual. O fundamental aqui em Porto Alegre é que todos nós possamos colocar sobre a mesa de debates nossas diferenças de pensamento.
Agência RBS