Diante das câmeras de dezenas de jornalistas brasileiros e estrangeiros e sem resistência, integrantes do MST e de outros movimentos camponeses destruíram, ontem, um canteiro de testes da Monsanto em Não-Me-Toque, no norte gaúcho.
O diretor de comunicação da empresa, Belmiro Ribeiro, afirmou que "o Estado parece ter perdido o controle sobre ações de grupos que desrespeitam o direito à propriedade e à integridade". O governo não faz, mas permite que façam atos como esse. Esta situação nos leva a reavaliar futuros investimentos no Rio Grande do Sul. Mas alguém terá de ressarcir a empresa pelos prejuízos. Vamos acionar o Estado ou os movimentos para que sejamos indenizados afirmou Ribeiro.
Os agricultores haviam invadido a sede da multinacional, uma das líderes no desenvolvimento de transgênicos, no fim da tarde de quinta-feira. Na manhã de ontem, pouco antes de arrancar pés de soja, o grupo promoveu um ato no pátio da empresa. No comando, estavam João Pedro Stédile, líder nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), frei Sérgio G×rgen, ex-diretor do Departamento de Reforma Agrária do governo Olívio Dutra, ambos , José Bové e Rafael Alegria, representantes da Via Campesina, da França e de Honduras, respectivamente, além de coordenadores regionais dos movimentos, ocuparam o microfone com discursos contra as multinacionais, o modelo agrícola neoliberal e o Fundo Monetário Internacional (FMI).
A segunda manifestação na unidade da Monsanto em Não-Me-Toque num intervalo de seis meses dá a mostra das armas da luta. "Os transgênicos não representam avanço tecnológico. Ao contrário, exigem uma grande aplicação de herbicidas e outros defensivos", avaliou Bové. Stédile lembrou que ações fortes como a realizada naquela cidade já foram capazes de promover a saída da multinacional da Índia e de países europeus.
A movimentação no pátio do complexo foi observada durante todo o dia, à distância, por policiais militares e rodoviários estaduais. A intervenção da Brigada Militar só seria possível, caso a Justiça local concedesse a reintegração de posse da unidade solicitada pelos advogados da Monsanto. O capitão Henrique Conte de Mello, comandante da BM em Não-Me-Toque, salientou que a guarnição só foi requisitada após a invasão.
Nos campos experimentais da Monsanto, os agricultores precisaram de poucos minutos para destruir uma área de aproximadamente dois hectares de soja supostamente transgênica. Em seguida, os manifestantes fizeram o enterro simbólico da Monsanto, cavando uma cova e depositando um caixão com o nome da empresa e a bandeira norte-americana.
Claudio Medaglia Jr.
Zero Hora, Agência RBS