Além das manifestações programadas para as ruas da cidade de Davos durante o Fórum Econômico Mundial (FEM), que vai reunir centenas de empresários das maiores empresas transnacionais do mundo, mais políticos dos países dos hemisfério Norte e Sul, mais os presidentes e diretores gerais das Instituições Multilaterais - portanto, a elite do capital mundial - teremos também em Davos, bem defronte do local do Fórum, um debate público organizado pelo projeto "O Olho Público sobre Davos" (The Public Eye on Davos). A palavra "olho" aqui tem o sentido de "vigilância", "olhar atento".
Este projeto é animado por entidades sociais suíças, entre elas a Declaração De Berna. Uma entrevista de Lara Cataldi, coordenadora do projeto na Suíça de fala francesa, no Le Courrier de Genebra, em 12 de janeiro, explica que o objetivo do debate anti-Davos será denunciar o "rolo compressor" neoliberal que o FEM representa. Ela lembra que o FEM é uma instituição privada com base em Genebra, que desde sua fundação, em 1971, tornou-se um motor poderoso da globalização neoliberal. O FEM fundou diversos clubes privados para reforçar suas redes (p.e., "Líderes globais de amanhã", "Líderes globais da comunicação", "Governadores da indústria", e outros). A conferência anti-Davos vai ser realizada na mesma data que o FEM - 25 a 30/1. Nela serão discutidos os quatro principais problemas ligados diretamente à agenda do FEM, mas a partir de um ponto-de-vista radicalmente diferente.
1) O impacto do FEM sobre as políticas internacionais e de desenvolvimento. Esta vai ser uma avaliação crítica, apontando para o poder extra-oficial e não representativo do Fórum de Davos, que consegue influir na moldagem das políticas neoliberais de governos e agências multilaterais. A massa da população mundial fica à margem dos debates de Davos, pois a reunião é fechada e excludente.
2) Regulações para forçar as empresas transnacionais a respeitarem o desenvolvimento das comunidades locais e as estratégias nacionais de desenvolvimento.
3) O ajuste estrutural como instrumento pelo qual as instituições financeiras multilaterais manipulam as decisões macroeconômicas dos países do Sul, forçando-os à liberalização em favor do grande capital mundial e bloqueando o direito daqueles países a um projeto próprio de desenvolvimento.
4) A urgência do cancelamento da dívida externa para os países mais pobres e de uma reparação em favor das dívidas do apartheid. A conferência anti-Davos, ao contrário do FEM, é aberta ao público. Estarão presentes cerca de 20 representantes dos países do Sul. As entidades organizadoras da conferência farão um esforço para manter estreito contato com o Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, que estará sendo realizado na mesma data. Lara enfatiza que o FSM "busca visualizar uma outra globalização". Ao contrário do evento anti-Davos de 2000, este ano o projeto recusa-se a qualquer diálogo com o FEM.
Por Marcos Arruda