Recepcionado com aplausos e vaias, o governador Germano Rigotto acabou por se converter na figura central da solenidade de abertura do 3º Fórum Social Mundial, realizada ontem à tarde no Centro de Eventos da PUCRS. Ao ser anunciado como integrante da mesa de abertura do evento, Rigotto foi vaiado no interior do auditório pelos delegados. Instantes depois, o mesmo público irrompeu em aplausos quando o governador afirmou que "as portas do Rio Grande e de Porto Alegre estão abertas para o Fórum".
A cerimônia, que durou uma hora e 25 minutos, teve como acompanhamento do início ao fim o coro de "Rigotto racista", entoado do lado de fora por manifestantes que acusavam o governador de ter fechado o Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra (Codene). Depois, Rigotto precisou encarar as dezenas de descontentes que o aguardavam do lado de fora. Os seguranças que cercavam o governador não conseguiram evitar a aproximação dos manifestantes junto à porta de saída do fórum. Houve tumulto e empurra-empurra.
Em lugar de entrar no carro oficial, junto ao qual já se encontrava, o governador resolveu dirigir-se à massa revoltada. Gesticulou e elevou a voz durante algum tempo, pedindo silêncio. " Passaram uma informação errada a vocês. Não estou sabendo de nada sobre o Codene. Vou ver o que ocorreu e retificar isso", gritou, arrefecendo os ânimos.
As vaias ao governador na cerimônia de abertura contrastaram com os aplausos e gritos de aprovação destinados aos integrantes do governo Lula. Estavam lá os ministros Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), Emília Fernandes (Conselho Nacional dos Direitos da Mulher) e Agnelo Queiroz (Esportes). Coube a Luiz Dulci, secretário-geral da Presidência, representar Lula no palco. Dulci não conseguiu falar quando tomou o microfone e anunciou que representava o presidente petista. A numerosa platéia pôs-se de pé para gritar o nome de Lula e repetir slogans da campanha eleitoral.
Em seu pronunciamento, o secretário-geral da Presidência garantiu que o governo federal estaria atento às discussões do fórum e pediu licença para encerrar sua participação com uma frase do sociólogo Sérgio Buarque de Holanda, um dos grandes nomes das ciências sociais no país e integrante da primeira leva de intelectuais que participaram da fundação do PT. "A desigualdade deve ser combatida, mas as diferenças devem ser valorizadas", citou.
O microfone foi repassado a seguir a Rigotto, que teve suas primeiras palavras acolhidas por vaias. O governador enfrentou a hostilidade da platéia com um discurso em defesa da democracia e das eleições livres, feito em um auditório onde se notavam bandeiras de Cuba, país governado há mais de quatro décadas por Fidel Castro e presente em Porto Alegre com uma delegação de 200 pessoas.
Antes de encerrar, Rigotto repetiu a oferta apresentada pouco antes pelo prefeito da Capital, João Verle. "Se por alguma razão o Fórum do próximo ano não puder ocorrer na Índia, as portas do Rio Grande do Sul e de Porto Alegre estão abertas para recebê-los", assegurou o governador, que considerou as vaias uma conseqüência da recente eleição para o Piratini. Durante a cerimônia, os organizadores divulgaram uma pesquisa realizada com 15 mil pessoas em 15 países. Conforme o estudo, a maioria acredita que a globalização torna os ricos mais ricos e os pobres, mais pobres.