Responsável pela principal conferência de ontem no 2º Fórum Mundial de Educação, em Porto Alegre, Satyarthi afirmou que os países industrializados contribuem atualmente com apenas R$ 800 milhões para a educação em países em desenvolvimento. «Se eles multiplicassem sua contribuição por sete, já teríamos o mínimo para resolver o problema. É preciso destacar, porém, que os US$ 11 bilhões, que foram calculados pelo Banco Mundial, não significam quase nada para os países industrializados. Essa é a despesa militar do mundo em apenas quatro dias. Representa 20% do que os europeus gastam com sorvete », disse no final da manhã de ontem, depois de encerrada a conferência.
O indiano é fundador-presidente da Marcha Global Contra o Trabalho Infantil, tido como o maior movimento da sociedade civil, englobando mais de duas mil entidades e organizações não-governamentais em 140 países. Ele também preside a Campanha Global pela Educação, principal rede mundial de educadores. Com essas credenciais, criticou duramente os países ricos em sua conferência, acusando-os de deliberadamente deixar fora da escola as crianças das nações pobres. “Os líderes mundiais estabeleceram a meta de chegar ao ano 2000 garantindo a educação para todos. Mas o número de analfabetos subiu de 115 milhões para mais de 800 milhões desde 1990. Há uma década, havia 75 milhões de crianças sem acesso à escola. Hoje são 120 milhões. Os líderes mundiais percebem que a educação é um poder e, de maneira consciente, não estão dispostos a dividir esse poder”, afirmou.
A posição de Satyarthi é apoiada por Jean-Marc Nollet, ministro da Infância da Bélgica, país industrializado cuja meta, depois da vitória sobre o analfabetismo, é reduzir de seis para três anos a idade em que todas as crianças devem estar na escola. Responsável pela educação fundamental da comunidade de lingua francesa de seu país, Nollet defende que o mundo desenvolvido deve responsabilizar-se pela questão da educação nas regiões mais atrasadas. Ele lembra que “as potências militares e industriais têm de fazer sua parte” e dá o exemplo da Bélgica que, em 2000, decidiu aumentar gradativamente, de 0,3% para 0,8% do Produto Interno Bruto, sua verba de cooperação internacional, “com a condição de que esses recursos sejam investidos em educação e saúde”.