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Date :  2018-09-11
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O mito da moeda estável

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Berkeley –Embora a euforia das criptomoedas possa ter atingido o seu pico, novas unidades continuam a ser anunciadas, aparentemente dia após dia. Entre as recém-chegadas destacam-se as chamadas “moedas estáveis”. Com nomes como Tether, Basis e Sagacoin, os seus valores estão rigidamente vinculados ao valor do dólar, do euro ou ao de um conjunto de moedas nacionais.

É fácil ver a atratividade destas unidades. O dinheiro viável fornece uma forma confiável de pagamento, unidade de conta e reserva de valor. Mas as criptomoedas convencionais, como a Bitcoin, são negociadas a preços extremamente flutuantes, o que significa que o seu poder de compra - o seu controlo sobre bens e serviços - é altamente instável. Consequentemente, são pouco atrativas como unidades de conta.

Nenhum dono de mercearia, no seu perfeito juízo, colocaria os preços dos produtos nas prateleiras em Bitcoins. Nenhum trabalhador quereria um contrato de emprego a longo termo que pagasse um salário fixo nessa unidade.

Além disso, como a sua capacidade de controlar bens e serviços no futuro oscila violentamente, as criptomoedas como o Bitcoin não são atrativas como reserva de valor. (As criptomoedas também são contestadas como formas de pagamento, mas deixemos essa questão de parte, por agora).

As moedas estáveis pretendem resolver estes problemas. Como os seus valores são estáveis em termos de dólares, ou seus equivalentes, são atrativas como unidades de conta e reservas de valor. Elas não são meros veículos de especulação financeira.

Mas isso não quer dizer que sejam viáveis. Para perceber o porquê, é útil distinguir três tipos de moedas estáveis.

O primeiro tipo é totalmente garantido: o operador detém reservas iguais ou superiores ao valor das moedas em circulação. O Tether, que é indexado ao dólar (taxa one-to-one com o mesmo valor), alega ter depósitos em dólares equivalentes ao valor da sua circulação. Mas a veracidade desta alegação foi questionada.

Isto aponta, contudo, para outro problema com este modelo: despesas. Para emitir o valor de um dólar de Tether para si ou para mim, a plataforma tem de atrair um dólar de capital de investimento proveniente de si ou de mim e colocá-lo numa conta bancária em dólares. Um de nós, então, terá negociado um dólar perfeitamente líquido, apoiado pela plena fé e crédito do governo dos EUA, por uma criptomoeda com um apoio questionável que é difícil de usar. Essa troca pode ser atrativa para os branqueadores de capitais e evasores fiscais, mas não para os outros. Por outras palavras, não é óbvio que o modelo irá escalar ou que os governos o permitirão.

O segundo tipo de moeda estável é parcialmente garantido. Neste caso, a plataforma detém dólares iguais a, digamos 50%, do valor das moedas em circulação.

O problema com esta variante será familiar para qualquer formulador de políticas monetárias cujo banco central tenha procurado fixar uma taxa de câmbio, mantendo reservas que são apenas uma fração de seu passivo. Se alguns proprietários de moedas tiverem dúvidas sobre a durabilidade da indexação, venderão as suas participações. A plataforma terá de comprá-las, usando as suas reservas em dólares, para evitar que os seus preços caiam. Mas, como o stock de reservas em dólares é limitado, os outros investidores lutarão para sair antes de o pote ficar vazio. O resultado será o equivalente a uma corrida aos bancos, levando ao colapso da indexação.

O terceiro tipo de moeda estável, que não é garantido, tem esse problema em grande quantidade. Aqui, a plataforma não emite apenas criptomoedas, mas emite também criptotítulos. Se o preço das moedas começar a cair, a plataforma compra-as de volta, em troca de títulos adicionais. É suposto os títulos atraírem os investidores porque eles negoceiam com desconto - para que, em princípio, o seu preço possa subir - e porque o emissor promete pagar juros aos detentores dos títulos, na forma de moedas adicionais. Esses juros devem ser financiados com o rendimento obtido a partir da futura emissão de moeda.

Aqui, também, a falha no modelo será óbvia até mesmo para um banqueiro central principiante. A capacidade do emissor de pagar juros dos títulos depende do crescimento da plataforma, o que não é garantido. Se o resultado se tornar menos certo, o preço dos títulos cairá. Mais títulos terão então de ser emitidos para evitar uma determinada queda no valor da moeda, tornando ainda mais difícil cumprir as obrigações de juros.

Em circunstâncias plausíveis, poderá não haver nenhum preço, ainda que baixo, que atraia compradores que estejam dispostos a adquirir títulos adicionais. Mais uma vez, o resultado será o colapso da indexação.

Tudo isso será familiar para qualquer um que tenha encontrado até mesmo um único estudo de ataques especulativos sobre as taxas de câmbio indexadas ou para qualquer pessoa que tenha tomado café com um banqueiro central de mercados emergentes. Mas isso não significa que seja familiar para os engenheiros de software inexperientes que promovem as moedas estáveis. E isso não significa que as falhas nos seus esquemas, que estão atualmente na moda, sejam familiares aos investidores.


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