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Date :  2017-03-02
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A geopolítica dos desafios ambientais


A maior parte do mundo parece estar no limite. A relação do Ocidente com a Rússia, o futuro da OTAN [NATO], a guerra civil síria e os refugiados, a ascensão do populismo de direita, o impacto da automatização e a iminente saída do Reino Unido da União Europeia: todos estes tópicos - e mais - originaram o debate público em todo o mundo. Mas há uma questão - há quem a considere a mais significativa de todas – que está a ser ignorada ou posta de lado: o ambiente.

Foi o que aconteceu na reunião anual deste ano do Fórum Económico Mundial, em Davos, Suíça. Com exceção de uma menção ao acordo climático de Paris feita pelo presidente chinês, Xi Jinping, temas como as alterações climáticas e o desenvolvimento sustentável nem sequer fizeram parte do discurso principal. Em vez disso, foram relegados e discutidos em reuniões secundárias que raramente pareciam cruzar-se com os acontecimentos políticos e económicos atuais.

Permitir que as questões ambientais caiam no esquecimento, neste momento de instabilidade geopolítica e social, é um erro e não apenas por este ser um momento crítico na luta para lidar com as alterações climáticas. A degradação ambiental e a insegurança de recursos naturais estão a enfraquecer a nossa capacidade de resolver alguns dos maiores problemas globais que enfrentamos.

A insegurança ambiental é um fator importante, embora muitas vezes subestimado, para a instabilidade global. O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados refere que as catástrofes naturais têm deslocado mais de 26 milhões de pessoas por ano desde 2008 - quase um terço do número total de pessoas que foram forçadas a deslocar-se neste período de tempo.

Até mesmo a atual crise dos refugiados tem um elemento ambiental. Nos anos que antecederam a guerra, a Síria vivenciou a seca mais extrema que a história registou naquele país. Essa seca, juntamente com práticas agrícolas insustentáveis e a má gestão dos recursos, contribuiu para a deslocação interna de 1,5 milhões de sírios e catalisou a agitação política antes da insurreição, em 2011.

A relação entre as pressões ambientais e agrícolas vai muito além da Síria. A dependência excessiva de geografias específicas para a agricultura significa que a produção de alimentos pode agravar problemas ambientais ou até mesmo criar novos. Isto pode colocar os interesses globais de consumo contra os interesses de cidadãos locais, como aconteceu no rio Mississippi, onde o escoamento de fertilizantes de um dos celeiros do mundo está a contribuir para gerar preocupações sobre a qualidade da água.

A ligação anda nos dois sentidos, com as condições ambientais também a moldar a produção agrícola - e, por sua vez, os preços dos produtos agrícolas, que representam cerca de 10% dos produtos comercializados em todo o mundo. Por exemplo, a subida das temperaturas e os padrões de precipitação alterados já estão a aumentar o preço do café. Tendo em conta que a área global de terra adequada para o cultivo de café pode contrair-se até metade, em 2050, as pressões sobre os preços só irão intensificar-se.

Uma súbita mudança para o protecionismo comercial poderia aumentar mais os preços dos produtos agrícolas. Tal aumento iria afetar o nível de rendimento das famílias agrícolas, favorecendo alguns agricultores, ao mesmo tempo que prejudicaria outros. Os consumidores finais, principalmente os pobres e vulneráveis, também iriam sofrer.

Outra razão pela qual o ambiente deve estar no centro dos debates económicos é o seu papel como único maior empregador do mundo. Quase mil milhões de pessoas, praticamente 20% da mão de obra mundial, trabalham formalmente na agricultura. Outros mil milhões, ou perto disso, estão envolvidos na agricultura de subsistência e, portanto, não estão registados nas estatísticas salariais formais.

Quaisquer iniciativas para apoiar o desenvolvimento económico têm de apoiar esta transição da população para atividades de maior produtividade. Isto é particularmente importante numa altura em que a tecnologia cada vez mais sofisticada e integrada ameaça transpor uma geração inteira de trabalhadores em alguns países. Os esforços para beneficiar esta enorme população têm de incidir não só na formação e na educação, mas também em novos modelos que permitam aos países capitalizar o seu capital natural - as paisagens, bacias hidrográficas e paisagens marítimas - sem esgotá-lo.

Tal como a insegurança de recursos naturais pode causar a deslocação e a vulnerabilidade, também a gestão eficaz dos recursos naturais pode apoiar a resolução de conflitos e o desenvolvimento económico sustentável. A este respeito, os esforços para alcançar a recuperação ambiental, aumentar a resiliência das comunidades rurais, desenvolver a produção agrícola sustentável e apoiar a gestão ambiental baseada na comunidade têm demonstrado resultados promissores.

Vejamos o caso da Rangelands Northern Trust (NRT), uma organização focada na criação de conservações de base comunitária para permitir o uso sustentável e equitativo da terra no Quénia. A NRT tem ajudado comunidades pastoris a estabelecer mecanismos eficazes de governação para o ambiente do qual dependem, reduzindo conflitos por direitos de pastagem, principalmente em épocas de seca.

Para muitas comunidades, a relação dos membros com a paisagem em que vivem é uma parte integrante da sua identidade. Com uma governação e um planeamento eficazes, um diálogo aberto, estruturas para partilhar recursos e um investimento suficiente, incluindo formação de competências, estas comunidades podem traduzir esta relação numa gestão ambiental eficaz - e construir sociedades mais saudáveis e mais seguras.

As crises que assolam o mundo moderno são complexas. Mas uma coisa é clara: o ambiente está ligado a todas elas. As soluções significarão pouco se não houver um mundo saudável no qual se possa implementá-las.


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