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Date :  2015-04-13
langue :  Portugais
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O Multilateralismo da Ásia


O Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial preparam-se para realizar as suas reuniões anuais, mas as grandes notícias da governação económica mundial não virão de Washington DC nos próximos dias. Na verdade, essas notícias aconteceram no mês passado, quando o Reino Unido, a Alemanha, a França, e a Itália se uniram a mais de 30 outros países, como membros fundadores do Banco Asiático de Investimento em Infra-estruturas (BAII). O BAII, de 50 mil milhões de dólares e criado pela China, ajudará a satisfazer as enormes necessidades em infra-estruturas da Ásia, que estão muito além da capacidade dos actuais mecanismos institucionais para o financiamento.
Seria de esperar que o lançamento do BAII, e a decisão de tantos governos em apoiá-lo, fosse motivo para celebração universal. E foi-o para o FMI, o Banco Mundial, e muitos outros. Mas, estranhamente, a decisão da adesão por países Europeus ricos provocou a ira dos responsáveis Americanos. Na verdade, uma fonte Americana não-identificada acusou o Reino Unido de “conciliação constante” com a China. Dissimuladamente, os Estados Unidos pressionaram países em todo o mundo para se manterem afastados.

De facto, a oposição da América ao BAII é inconsistente com as suas prioridades económicas declaradas para a Ásia. Tristemente, este parece ser outro caso em que a insegurança da América relativamente à sua influência global se sobrepõe à sua retórica idealista – desta vez, possivelmente pondo em causa uma oportunidade importante para fortalecer economias Asiáticas em desenvolvimento.
A própria China é um testemunho da medida em que o investimento em infra-estruturas pode contribuir para o desenvolvimento. No último mês, visitei áreas anteriormente remotas do país que são hoje prósperas devido à conectividade – e à consequente circulação mais livre de pessoas, bens, e ideias – que tais investimentos proporcionaram.
O BAII traria benefícios comparáveis a outras regiões da Ásia, o que aprofunda a ironia da oposição dos EUA. A administração do Presidente Barack Obama defende as virtudes do comércio; mas, para os países em desenvolvimento, a falta de infra-estruturas é uma barreira bem mais séria que os direitos aduaneiros.
Existe mais uma importante vantagem global para um fundo como o BAII: neste momento, o mundo sofre de uma insuficiente procura agregada. Os mercados financeiros mostraram ser insuficientes, quanto à tarefa de reciclar as poupanças dos locais onde os rendimentos excedem o consumo para os locais onde o investimento é necessário.
Quando foi Presidente da Reserva Federal dos EUA, Ben Bernanke descreveu erradamente o problema como um “global saving glut (NdT: excedente global de poupança).” Mas num mundo com tão grandes necessidades de infra-estruturas, o problema não é um excedente de poupança ou uma falta de boas oportunidades de investimento. O problema é um sistema financeiro que se destacou na promoção da manipulação do mercado, da especulação, e da informação privilegiada, mas que falhou na sua tarefa principal: a intermediação de poupanças e investimento a uma escala global. É por isto que o BAII poderia trazer um pequeno mas muito necessário impulso à procura agregada global.
Assim, deveríamos saudar a iniciativa Chinesa em multilateralizar o fluxo de recursos. Na verdade, é uma réplica da política Americana no período após a II Guerra Mundial, quando o Banco Mundial foi fundado para multilateralizar fundos de desenvolvimento, que provinham esmagadoramente dos EUA (um passo que também ajudou a criar um quadro de primeira classe de funcionários públicos internacionais e de profissionais do desenvolvimento).
A assistência do Banco Mundial foi, por vezes, sobrecarregada pela ideologia predominante; por exemplo, as políticas de mercado livre do Consenso de Washington impostas aos beneficiários levaram na realidade à desindustrialização e ao decréscimo do rendimento na África Subsaariana. Não obstante, a assistência dos EUA foi, no global, muito mais eficaz do que teria sido se não fosse multilateralizada. Se estes recursos tivessem sido canalizados através da própria agência de apoio dos EUA, a elaboração de políticas teria ficado refém dos caprichos do pensamento (ou da ausência de reflexão) desenvolvimentista, entre uma administração e a seguinte.
Novas tentativas para multilateralizar os fluxos de assistência (incluindo o lançamento, pelos países BRICS, do Novo Banco de Desenvolvimento em Julho passado) também deverão contribuir significativamente para o desenvolvimento global. Há alguns anos, o Banco Asiático de Desenvolvimento defendeu as virtudes do pluralismo competitivo. O BAII oferece uma oportunidade de testar essa ideia no próprio financiamento do desenvolvimento.
Talvez a oposição da América ao BAII seja um exemplo de um fenómeno económico que tenho observado frequentemente: as empresas querem mais concorrência em todo o lado excepto no seu próprio sector. Esta posição já cobrou um preço elevado: se tivesse existido um Mercado de ideias mais competitivo, o deficiente Consenso de Washington poderia nunca sequer ter chegado a ser um consenso.
A oposição da América ao BAII não é inédita; com efeito, é parecida com a bem-sucedida oposição dos EUA à generosa Nova Iniciativa Miyazawa do Japão no fim da década de 1990, que ofereceu 80 mil milhões de dólares para ajudar países durante a crise da Ásia Oriental. Então, como agora, não se tratava de os EUA oferecerem uma fonte alternativa de financiamento. Queriam simplesmente a hegemonia. Num mundo cada vez mais multipolar, queriam permanecer como o G-1. A falta de liquidez, conjuntamente com a insistência da América em ideias incorrectas sobre como responder à crise, fizeram com que a recessão fosse muito mais profunda e prolongada do que deveria ter sido.
Dito isto, a oposição dos EUA ao BAII é mais difícil de compreender, dado que a política de infra-estruturas é muito menos dependente da influência da ideologia ou de interesses especiais do que outras áreas de elaboração de políticas, como as que os EUA dominam no Banco Mundial. Além disso, a necessidade de salvaguardas ambientais e sociais no investimento em infra-estruturas tem maior probabilidade de ser acautelada eficazmente num enquadramento multilateral.
O Reino Unido, França, Itália, Alemanha, e os outros que decidiram aderir ao BAII deveriam ser felicitados. Espera-se que outros países, tanto na Europa como na Ásia, adiram também, ajudando a cumprir a ambição de que as melhorias em infra-estruturas possam melhorar as condições de vida noutras partes da região, tal como já fizeram na China.


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