Tese n° 1:
As questões globais, os estudos e as pesquisas sobre as globalizações não estão nem obsoletos, nem ultrapassados — longe disto. Quanto mais “a globalização” é percebida como um simples “fato” ao qual deveríamos apenas nos adaptar, mais ela se revela como um conceito suspeito, ambíguo e falacioso diante do qual é preciso mobilizar todos os recursos críticos da filosofia e das ciências humanas.
Tese n° 2:
O slogan exaltando “o fim da globalização” deve ser considerado como a expressão, por seus promotores, do seguinte desejo: de que com esse decreto da morte da globalização chega ao fim toda pesquisa crítica, toda abordagem comparativa, toda busca filosófica e, enfim, toda reavaliação científica dos diferentes processos e figuras conflitantes da “globalização”.
Tese n° 3:
Muito pelo contrário, devemos apoiar o ponto de vista de acordo com o qual esse vasto domínio dos “Estudos e pesquisas sobre as globalizações” – área que começou a ser investida pelo pensamento crítico há menos de uma década – encontra-se atualmente apenas em sua fase inicial.
Tese n° 4:
Não podemos negligenciar o aporte, para esse campo de pesquisa, das diferentes contribuições individuais e coletivas, de origem universitária ou não, que surgiram no mundo inteiro, nos dez últimos anos: a saber, um trabalho de desconstrução (de cada sub-área) já impressionante, associado a um debate conceitual solidamente embasado, e depois completado por uma reformulação essencial do léxico das globalizações e, portanto, de seu dicionário.
Tese n° 5:
Os limites aos quais se viu confrontado esse movimento multilateral, transnacional e transdisciplinar de avaliação crítica, fracamente organizado, mas animado e produtivo, foram especialmente: i) uma circulação insuficiente dos conceitos e dos resultados da pesquisa no âmbito das esferas mediática, política e econômica, e, correlativamente, ii) uma fraca capacidade de modificar os paradigmas normativos sobre “a globalização” utilizados pelos jornalistas, bem como pelos dirigentes políticos e econômicos – e, consequentemente: a suscitar uma verdadeira inflexão de sua visão e de sua gestão dos “negócios globais”.
Tese n° 6:
O futuro dos “Estudos e pesquisas sobre as globalizações” não está absolutamente assegurado, inicialmente devido ao contexto lembrado na Tese n° 2. Não apenas essa área de estudos e de pesquisas motiva muito pouco as pessoas – inclusive no âmbito da comunidade acadêmica –, mas ela também é amplamente considerada como inútil, inclusive entre os grupos ditos “progressistas”. Essa constatação implica em que a próxima etapa deva ser articulada a partir de uma estratégia ofensiva, visando, por um lado, a fazer circular os conceitos-chave desenvolvidos ao longo da última década e, por outro lado, a convencer um número crescente de pessoas sobre a pertinência e a utilidade da pesquisa sobre as globalizações.
Tese n° 7:
O exigente e considerável esforço transdisciplinar que isso requer consiste numa séria limitação à expansão dessa área de pesquisa. Efetivamente, não vivemos mais na época de Diderot, Condorcet, Kant, Hegel e de seus semelhantes que estariam bem melhor aparelhados do que nós para “pensar as globalizações”, devido à característica plural do seu Bildung. A partir disso, duas condições parecem cruciais para o desenvolvimento da pesquisa sobre as globalizações: por um lado, i) que aqueles que a empreendem se tornem, eles próprios, cada vez mais “transdisciplinares”; por outro lado, ii) que se consiga convencer as Universidades hostis a modificar sua atitude em relação aos estudos transdisciplinares, de modo que estes favoreçam particularmente aqueles que estão implicados nos estudos sobre as globalizações.
Tese n° 8:
Enfatizar a questão do multilingüismo é essencial, a fim de permitir que a pesquisa sobre as globalizações se desenvolva fora dos seus caminhos normativos. Parece, efetivamente, cada dia mais problemático abordar as questões globais apenas através das vias lingüísticas do inglês, do alemão ou do francês. “Globe”, “Welt”, “monde”, “globalisation”, “mondialisation”, assim como sua tradução em outras línguas indo-européias, devem assim ser confrontados de modo durável com seus “equivalentes” e “diferentes” nas tradições budista, islâmica, Guarani, Yoruba ou Inuit.
Tese n° 9:
Nunca devemos esquecer que “a globalização” é uma questão cultural – ou seja: i) em primeiro lugar, uma questão cultural, e ii) uma questão cultural. Em primeiro lugar significa que a percepção, a compreensão e a descrição da “globalização” é cultural antes de ser econômica, política, social. Cultural significa que a substância, as características ou a evolução da “globalização” estão intimamente ligadas às referências culturais e aos debates culturais de nossas sociedades.
Tese n° 10:
O futuro dos “Estudos e pesquisas sobre as globalizações” não está determinado. De agora em diante, ele parece até mesmo estar “em aberto”. Entretanto, ele será rapidamente julgado sobre a capacidade dos estudos e pesquisas a esse respeito, de modificar em profundidade o julgamento dos líderes que não pertencem ao “mundo intelectual” em relação aos diversos e contraditórios projetos de globalização. E sobre sua capacidade de fornecer a esses líderes razões objetivas e sérias para privilegiar a emergência de um autêntico “cidadão cosmopolítico” ao invés de um “consumidor global”.
O que continua em jogo nesse processo é a compreensão partilhada da diferença ontológica entre, de um lado, um verdadeiro “mundo” (mundus politicus) de globalizações plurais e diversas, e, por outro lado, um “globo” uniforme no qual reine apenas uma mesma e letal forma de globalização.
Tradução: Giselle Dupin