A estratégia política e a semântica sobre o que é o movimento caracterizado pela mídia como anti-globalização foram um dos principais eixos de debate da conferência "Organismos internacionais e arquitetura do poder mundial", realizada na manhã do dia 4, dentro do eixo "Poder político e ética na nova sociedade". Participaram como conferencistas Walden Bello, representante do instituto Focus on the Global South, da Tailândia, e professor da Universidade das Filipinas, Roberto Bissio, do Social Watch, Uruguai; Susan George, do Attac França; Peter Wahl, da WEED, Alemanha, e Aurélio Viana, da Rede Brasil. O animador da conferência foi Teivo Teivainen, da Network Institute for Global Democratization (NIGD), da Finlândia.
Globalização solidária, globalização alternativa, antiglobalização. São vários os termos utilizados. Walden Bello propôs a "desglobalização", com a reorientação da economia mundial e a opção do mercado interno em vez do externo. "Não permitindo que as decisões sejam definidas pelo mercado, mas que sejam reforçadas na produção, com destaque para as formas cooperativadas e para a subsidiaridade", apontou Bello.
Segundo Teivo Teivainen, o mais importante é o diálogo crítico entre aqueles que compartilham as mesmas aspirações democráticas. "Estamos enfrentando aqueles que defendem o sistema atual". Teivainen defendeu que é importante também falar sobre como aplicar princípios democráticos em estruturas multilaterais internacionais.
Regras legítimas
"Queremos regras legítimas, não ausência de regras. As propostas têm que sair de leis internacionais, que surgem de leis de direitos humanos, econômicos, sociais, culturais e ambientais", explicou Susan George, do Attac França. Para ela, o que o movimento tenta fazer é criar uma nova ordem mundial: "uma nova sociedade de sociedades diversas. Devemos formar alianças nacionais fortes e enfatizar os pontos em que concordamos".
Para Roberto Bissio, o princípio organizador global fundamenal é a Declaração dos Direitos Humanos, que é universal e foi aceita pelos governos do mundo. "É preciso lembrar que a delcaração diz 'Nós, os povos das nações unidas' e não 'Nós, os governantes do mundo'". O segundo princípio que deve organizar o movimento é o da subsidiaridade (CHECAR): "as decisões devem ser tomadas o mais próximo do povo possível", enfatiza.
Bissio destacou que organismos internacionais precisam desse subsídio. "Quando os países não cumprem os acordos sobre direitos humanos não há grandes problemas, mas quando descumprem tratados comerciais as retaliações são imediatas. Os direitos dos capitais não foram acompanhados de obrigações e nem de direitos dos trabalhadores".
Realizar uma campanha em cada país pela ratificação da Corte Penal Internacional e produzir conhecimento e informação qualificada sobre as propostas que existem para um outro mundo possível são dois pontos principais em que se é preciso avançar, de acordo com Bissio.
Instituições multilaterais e institutos globais
O brasileiro Aurélio Viana, da Rede Brasil, destacou que é muito fácil falar de combate à pobreza quando não se toca no assunto sistemas econômicos e sistema de poder econômico. E isso é o que tem acontecido hoje quando Colin Powell ou os participantes do Fórum Econômico Mundial falam de globalização solidária. Para ele, "é preciso fortalecer o nacional e o local, mas também avançar na atuação direta nos sistemas internacionais existentes: o sistema ONU e o sistema de Bretton Woods (FMI, Banco Mundial e bancos regionais)". Entretanto, Viana destaca que é impossível atuar globalmente com um Estado-Nação fraco. "A participação nesses fóruns somente ocorre por meio de governos nacionais". Segundo Viana, os países poderiam ter uma atuação mais forte nos bancos regionais de desenvolvimento, onde não existe um desequilíbrio de poder tão grande como o que ocorre no Banco Mundial, por exemplo.
Peter Wahl, representante da WEED (órgão ligado à economia, ecologia e desenvolvimento mundial), disse que é preciso restringer os institutos globais, definindo o que deve ser regional e local. "Não acredito num tribunal global. Também é uma impossibilidade democrática ter um parlamento mundial ou um Estado global. O que queremos é promover a globalização da igualdade, da justiça, dos direitos humanos, econômicos, políticos e sociais".
Susan George acrescentou que "é preciso democratizar o estado, já que é a única forma de atuar em nível internacional. Não é possível um parlamento mundial quando metade dos países do mundo vive em ditaduras".