A descrença na democracia, que provoca manifestações de simpatia ao retorno de regimes militares na América Latina, é uma das obras do neoliberalismo, segundo o norte-americano Noam Chomsky. O lingüista de 72 anos, estrela do Fórum Social Mundial, atraiu mais de 2 mil pessoas à Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), ontem à tarde, na inauguração das conferências sobre a paz. Falou durante uma hora e 10 minutos para atacar "os senhores do universo" que se reúnem em Davos", o "terrorismo de Estado dos EUA" e defender "os malucos" que se reúnem em Porto Alegre.
"Nós, os malucos, somos os anti-Davos", disse Chomsky, referindo-se a uma definição que os próprios neoliberais teriam cunhado para o FSM. "E eles, de Davos, se autodefinem como a comunidade internacional, mas prefiro a definição do jornal The Times, de Londres, que os classifica como senhores do universo".
Para Chomsky, o verdadeiro conflito mundial hoje está expresso entre os fóruns de Davos que este ano se realiza em Nova York e o de Porto Alegre. O norte-americano iniciou a conferência com a análise da guerra ao terrorismo. Para ele, a reação americana era o pretexto que faltava para que a indústria armamentista voltasse a receber incentivos, porque os gastos na área militar já haviam crescido antes dos atentados de 11 de setembro. Chomsky teme que a "segunda guerra ao terrorismo" repita o que ocorreu nos anos 80, quando os EUA "montaram Estados mercenários na América Central sob o pretexto de combate ao terror".
"O modelo neoliberal foi imposto com muito mais rigor na América Latina", disse, citando uma frase do economista americano Joseph Stiglitz, ex-vice-presidente do Banco Mundial (Bird). Os efeitos do modelo, conforme Chomsky, também alimentam uma ameaça. Atribuindo suas conclusões a pesquisas feitas na AL, disse que "a população já não faz objeções a hipótese de regimes militares. Há uma desilusão com a democracia formal. A falta de confiança nas instituições democráticas é provocada pelo neoliberalismo".
A conferência, inicialmente prevista para o salão principal do Centro de Eventos da PUC, com 1,5 mil lugares, foi transferida para uma sala de 500 lugares por problemas técnicos, segundo a organização. Houve vaias no salão superlotado e muita gente abandonou o local. A palestra foi assistida em um telão.
Moisés Mendes
Agência RBS