Estimular o diálogo com os diversos atores sociais, criar redes de informação, promover a diversidade sob o prisma dos direitos humanos e valorizar as produções culturais locais. Estas foram as propostas apresentadas na conferência "Produção Cultural, Diversidade e Identidade", do eixo A Afirmação da Sociedade Civil e dos Espaços Públicos, realizada na manhã do dia 3 de fevereiro no Centro de Eventos do Hotel Plaza São Rafael.
A mesa composta por Aminata Traoré, do Centre Hamadou Hampaté, de Mali, Aureli Argemí, do Centro Internacional Escarré para las Minorías Étnicas y las Naciones, da Espanha, Javier Pérez, da Red de Centros Culturales Trans Europe Halles, localizada na Espanha, Maria Luiza Monteiro da Silva, do Youth of Rio, do Rio de Janeiro, teve Carles Riera, do Fórum ALCE, da Espanha, como animador.
Riera falou sobre o papel da sociedade civil na construção de um novo mundo e pediu para que os integrantes da mesa e a platéia refletissem sobre questões como a criação de redes de comunicação que possibilitem a inter-relação entre os povos, a construção de uma cultura da paz, a valorização de culturas populares e o papel do Estado na promoção de políticas públicas culturais.
O representante da Red de Centros Culturales Trans Europe Halles, Javier Pérez, apontou a expansão e a disseminação de culturas locais como aspectos positivos da globalização. Por outro lado, disse que a imposição do modelo sócio-cultural ocidental contribui para que as pessoas percebam os produtos culturais como meras mercadorias. Para Pérez, os produtos culturais devem ser considerados como transmissores de valores, pois revelam a identidade cultural das comunidades. "A cultura não pode ser vista como um fim em si mesma, mas como um meio para a transformação social".
Maria Luiza Monteiro da Silva, do Youth of Rio, destacou que a Internet é uma ferramenta importante para o desenvolvimento de redes, mas atentou para o fato de a rede mundial de computadores fazer parte do mundo técnico da globalização. "A globalização também gerou uma legião de excluídos", lembrou. Maria Luiza citou, ainda, o carnaval do Rio de Janeiro como exemplo da influência que os meios de comunicação de massa exercem sobre os movimentos populares. "As escolas de samba adequaram-se ao tempo televisivo. Nada é feito sobre isso", denunciou.
O membro do Centro Internacional Escarré para las Minorías Étnicas y las Naciones, Aureli Argemí, foi taxativo: "Não podemos promover a cultura e a diversidade deixando de lado os direitos humanos". Na opinião de Argemí, o ser humano deveria ser respeitado por sua cultura e não por sua situação econômica. Ele concordou com Pérez ao dizer que tanto a globalização como a unificação da Europa não favoreceu a diversidade. "O que vimos foi a imposição de uma cultura sobre as outras", relembrou.
Por fim, Aminata Traoré, do Centre Hamadou Hampaté, uma das promotoras do Fórum Social Africano, situou o continente africano no mundo globalizado: "A África é a grande perdedora nesse jogo de logro. As medidas neo-liberais sufocam meu país. Estamos tentando nos libertar". Aminata ressaltou que a imagem que "vendem" da África é a de um local cheio de guerras e genocídios. "Se o negócio é globalização, porque nós, os africanos, temos dificuldades para entrar na Europa e nossos bens culturais entram com tanta facilidade?", indagou. "A África não é pobre. É empobrecida. Temos que retribuir à África parte da riqueza que lhe foi tomada", concluiu.