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Date :  2001-02-06
langue :  Portugais
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Agriculturas

Agriculturas


A agricultura está enraizada em espaços concretos, os solos são o próprio símbolo da singularidade do local. No entanto, ela não escapa às mundializações, e às vezes chega a ser pioneira delas. A história da agricultura propõe, efetivamente, esboços precoces de fenômenos mundializados. A longa história da difusão das plantas cultivadas a partir dos seus berços de origem, pode dificilmente ser ligada a uma forma de mundialização. O mesmo não se pode dizer da instituição, na época moderna, da economia de explorações agrícolas. A economia açucareira das "ilhas" tropicais, mais tarde as plantações de café, cacau, chá ou seringueiras não são mais simples trocas de produtos. Desta vez, existe uma transferência de métodos de exploração, a imposição brutal e não desejada de um modelo externo que transforma em profundidade os espaços, as sociedades, e estabelece novos laços de dependência.

Na agricultura, como em outros setores, o último meio-século testemunhou fenômenos de uma amplitude bem diversa, e talvez também de outra natureza. As trocas atuais dos produtos tropicais traduzem dependências, mas num contexto diferente. As plantações coloniais foram desmanteladas, as culturas comerciais de exportação são às vezes praticadas por pequenas e médias fazendas camponesas. Se as trocas comerciais mundializadas ainda são grandemente dominadas pelas empresas dos países desenvolvidos, os fluxos e as redes tornaram-se mais complexos. Os países tropicais podem encontrar novas saídas na produção de frutas, legumes e flores destinados aos países ricos, sem falar no caso ao mesmo tempo caricatural e exemplar das culturas ilícitas que podem permitir a camponeses pobres, nas zonas isoladas e controladas por máfias, serem integrados nos circuitos mundiais.

As mundializações surgem mais claramente em outras áreas. A difusão dos modos de consumo dos países ricos (por exemplo o do trigo, do pão), ao mesmo tempo que ilustra uma certa uniformização dos comportamentos, induz transformações sensíveis. Esses novos hábitos alimentares mantêm dependências (recurso às importações), colocam às vezes em concorrência as produções locais (privadas dos seus mercados), induzem processos de integração mais vastos. Os excedentes de produção cereal dos países desenvolvidos surgem então, simultaneamente, como as garantias de um abastecimento regular, uma ajuda alimentar indispensável em caso de crise, uma marca de dependência.

A generalização de modelos de produção considerados como universais é, sem dúvida, a manifestação mais rica dos fenômenos de mundialização. Nos países desenvolvidos, a agricultura produtivista, intensiva, mecanizada, parecia talvez não ter rival. As empresas da agro-indústria, não contentes de controlar a produção na origem (fornecimento das sementes, produtos de tratamento, máquinas) e no final (transformação dos produtos), às vezes transformam os produtores agrícolas em simples executantes a serviço dos seus procedimentos industriais (filiais integradas). As operações de "revolução verde" implementadas em certos países em desenvolvimento a partir dos anos 1960 (Índia, Paquistão), puderam surgir também como o triunfo de uma concepção do progresso agrícola baseado na intensificação, no recurso a variedades selecionadas, enfim, numa adaptação dos princípios utilizados nos países desenvolvidos.

Atualmente, organismos geneticamente modificados – transgênicos ou “OGM” - são por sua vez apresentados como os meios de aumentar a produção economizando os recursos naturais. E a China está na primeira fila dos utilizadores. "Mundialização" significaria então a implantação de métodos tecnicamente eficazes, o triunfo de um modelo produtivista adaptável e adaptado, aliança da necessidade de alimentar o planeta e das realidades bem compreendidas pelos mercados e pelos lucros industriais.

No entanto, no momento em que esse modelo parecia triunfar, encontrar no aperfeiçoamento dos OGM o salto tecnológico necessário ao seu novo desenvolvimento, a contestação ganha terreno, a ponto de promover modelos alternativos. A denúncia da dependência introduzida pela ajuda alimentar está na origem das operações de ajuda triangular - o país doador não vende mais seus próprios excedentes, mas compra num país em desenvolvimento os cereais excedentes que ele dará a um outro país em desenvolvimento deficitário. O comércio equitativo convida os consumidores a comprar prioritariamente produtos (café, cacau) que foram pagos a um bom preço, garantido, aos produtores. Esses últimos dispõem então dos pagamentos regulares necessários para um verdadeiro desenvolvimento rural.
À mundialização da agricultura industrial responde sua refutação mundial. Uma como a outra utilizam os mesmos caminhos, e inicialmente as opiniões públicas alertadas por debates científicos, fatos espetaculares geradores de inquietação (a "vaca louca") que conduzem a um questionamento global (a "comida ruim"). Os perigos dos OGM não são denunciados apenas nos países ricos. Também nos países em desenvolvimento elevam-se vozes não apenas contra seus riscos, mas também contra o modelo agrícola que eles conduzem e a nova dependência que eles criam em relação às empresas agro-alimentares que têm o monopólio do fornecimento dessas sementes. A contestação ecológica dos riscos que os métodos intensivos fazem os ecosistemas correr, por toda parte (erosão, esgotamento dos solos e de recursos como a água, prejuízos à biodiversidade) é, por natureza, mundial, e obriga a pensar novas formas de solidariedade.

Assim, na área agrícola como em outras, as mundializações correspondem simultaneamente à afirmação e à difusão de um modelo, mas também ao nascimento de contestações e de "contra-modelos" utilizando vetores de comunicação semelhantes.


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