As propostas aprovadas por prefeitos e governantes regionais durante o Fórum de Autoridades Locais, encerrado ontem em Porto Alegre, serão executadas por uma nova entidade. Na Declaração de Porto Alegre, documento final do evento, foi anunciada a criação da Rede de Cidades pela Inclusão Social, vinculada à fusão entre a Federação Mundial de Cidades Unidas (FMCU) e a União Internacional de Autoridades Locais (Iula).
A primeira ação concreta da rede, acertada durante os dois dias de duração do Fórum e divulgada ontem, será um mutirão para auxiliar cidades argentinas. Buenos Aires, cujos hospitais atendem metade da população do país, vai receber medicamentos de cidades como Genebra e Barcelona.
"Perguntamos ao prefeito de Buenos Aires o que era mais necessário para a cidade, e ele respondeu que precisava de remédios. As prefeituras européias se comprometeram em fazer aportes de peso", relatou a prefeita da Capital paulista, Marta Suplicy, que também prepara um auxílio aos portenhos. O prefeito de Buenos Aires, Aníbal Ibarra, já afirmara, na véspera, ter recebido oferecimentos solidários de vários prefeitos. A Argentina vive uma grave crise econômica, e sua Capital tornou-se, desde fins do ano passado, palco de violentas manifestações populares.
A Declaração de Porto Alegre lista uma série de propostas que a Rede de Cidades pela Inclusão Social vai se esforçar para transformar em realidades. Entre elas foram incluídas a obtenção do cancelamento da dívida dos países pobres, a troca de experiências para o desenvolvimento, a defesa de manifestações pacíficas contra a globalização, a incorporação de imigrantes nas políticas de inclusão social e a participação nos processos de paz no mundo. "A rede de cidades é a base de uma nova relação política. O sucesso do fórum foi muito além das nossas expectativas, com a participação de representações dos principais países", festejou o prefeito anfitrião, Tarso Genro.
A leitura da Declaração de Porto Alegre foi feita ontem à noite, por Tarso, no Centro de Eventos do Plaza São Rafael. Minutos antes, a ex-primeira dama francesa Danielle Miterrand pediu licença para se dirigir ao público e solicitou apoio dos participantes e a iniciativa de exigir o esclarecimento dos assassinatos dos prefeitos Toninho do PT, de Campinas, e Celso Daniel, de Santo André. A exigência apareceu também na declaração final. "Estão assassinando Celso Daniel pela segunda vez. A investigação desvia a atenção da vítima e tenta transformá-la em réu", atacou Marta Suplicy.
O documento divulgado ontem também se posicionou pela redução dos gastos militares, pela reformas das instituições internacionais e pelo reconhecimento das necessidades dos países pobres. "Em Porto Alegre, aprendemos uma coisa essencial: que a elaboração de uma idéia pode vir de baixo e atingir todo o mundo. Vamos sair de Porto Alegre com a reflexão de que a construção de um novo mundo não está ligada à riqueza, mas à força das idéias", resumiu Mercedes Bresso, presidente da FMCU e presidente da Província de Turim (Itália).
Agência RBS