Quase cinco meses depois de o planeta assistir estarrecido ao ataque terrorista em Nova York, 60 mil pessoas tentam encontrar nos próximos cinco dias, em Porto Alegre, um caminho para a paz mundial. Com participantes de 150 países, o 2º Fórum Social Mundial será aberto oficialmente na tarde de hoje, depois de uma marcha contra a guerra, às 19h.
Apesar de pregar a paz, o Fórum não começa com espírito desarmado. Ontem, os promotores do evento anunciaram que está barrado o ingresso o vice-presidente do Banco Mundial para Assuntos Externos, o norte-americano Mats Karlsson, e do primeiro-ministro belga, Guy Verhofstadt. "Ele defende os interesses neoliberais e é um governante de direita. Isso vai contra os princípios do evento", justificou Cândido Grybowsky, do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), sobre a restrição à presença de Verhofstadt.
O belga ficou conhecido como "Baby Thatcher", por sua simpatia às idéias da ex-primeira-ministra inglesa Margaret Thatcher e do ex-presidente norte-americano Ronald Reagan. Em relação a Karlsson, a advertência de Grybowsky revela a preocupação dos organizadores em conter possíveis atos de violência de grupos de extrema esquerda. "Aconselhamos o representante do Banco Mundial a não vir a Porto Alegre. Não teríamos condições de garantir sua segurança".
A organização Pátria Basca e Liberdade (ETA) também não obteve o visto das organizações não-governamentais (ONGs) que coordenam o encontro.
Além dos vetos, a realização de protestos marcará o primeiro dia do encontro. A Marcha Contra a Guerra e pela Paz se inicia às 16h30min, no Largo Glênio Peres, e segue até o Anfiteatro Pôr-do-Sol. Antes disso, por volta do meio-dia, o Sindicato dos Bancários de Porto Alegre realiza um ato de repúdio à Área de Livre Comércio das Américas (Alca), no Centro. Um panelaço em solidariedade à Argentina também será organizado.
No mesmo horário, servidores da Polícia Civil protestam, na Esquina Democrática, contra a política de segurança pública do Estado. O tema da segurança do Fórum foi motivo de questionamento ao governador Olívio Dutra na tarde de ontem, durante a entrevista coletiva de apresentação do Fórum na PUC. Apesar de a questão ser um dos maiores temores para o Piratini e para o prefeito Tarso Genro, Olívio desconversou ao responder a pergunta, limitando-se a dizer que o policiamento estará reforçado.
O público esperado é cerca de três vezes maior do que o registrado no ano passado. Concentrada no Centro de Eventos da PUC, a programação tomará as ruas da cidade, onde serão realizados shows, além das marchas e encontros. O Fórum voltará à Capital gaúcha em 2003. Para 2004, a proposta é levar o encontro para Jerusalém.
Fernanda Crancio e Poti Silveira Campos
Agência RBS