O líder da Confederação Camponesa da França, José Bové, que se tornou conhecido dos gaúchos no ano passado ao destruir uma plantação de soja transgênica no norte do Estado, disse que poderá participar de ação semelhante este ano.
Bové desembarcou em Porto Alegre para participar do 2º Fórum Social Mundial como delegado da organização camponesa Via Campesina. "Não sou eu quem decido. Não vim para nenhuma ação específica, mas participarei se for contra os transgênicos e se houver uma decisão do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra ou da Via Campesina", afirmou Bové.
Em 2001, na abertura da primeira edição do evento, Bové, junto com integrantes do MST e do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), depredou uma plantação experimental da empresa Monsanto, em Não-Me-Toque. Ontem, sem descartar a possibilidade de uma nova invasão, Bové relembrou o episódio. "Eu não escolhi o que aconteceu no ano passado. Foi a polícia brasileira que me escolheu. Não estava só. Havia cerca de 2 mil (agricultores) em Monsanto e não foram detidos".
O francês aterrisou em Porto Alegre por volta das 11h e ganhou uma carona da prefeitura de Cachoeirinha para o Hotel Plaza São Rafael, na Capital. Segundo o prefeito José Luiz Stédile (PT), irmão do dirigente do MST João Pedro Stédile (que também atuou contra a Monsanto), Bové chegou no mesmo vôo que trouxe franceses mantenedores do Centro Luiz Itamar, localizado no município da Região Metropolitana. A entidade abriga 50 crianças carentes. Todos ficaram hospedados no Plaza, com diárias custando entre R$ 210 e R$ 310.
Bové negou estar em Porto Alegre a convite do MST, mas como delegado da Via Campesina. Outros militantes da entidade estão abrigados no Convento dos Capuchinhos, no bairro Partenon. No total, a Via Campesina trouxe 17 pessoas para Porto Alegre.
Às 14h, Bové seguiu para o Palácio Piratini, onde participou da reunião do Comitê Internacional do Fórum. A Confederação Camponesa é fundadora da Ação pela Tributação das Transações Financeiras e Apoio aos Cidadãos (Attac), uma das principais organizadoras do Fórum e mais importante braço europeu do encontro. No Piratini, Bové recebeu uma credencial do comitê gaúcho do Fórum e foi conduzido ao Galpão Crioulo, onde cerca de 150 pessoas discutiam a temática do evento que ocorre de 31 de janeiro a 5 de fevereiro.
Escoltado pelo presidente da Attac e editor do jornal Le Monde Diplomatique, Bernard Cassen, Bové, sempre de sandálias e com uma sacola a tiracolo, retornou ao hotel às 18h20min. Os dois se dirigiram em seguida para a abertura do 2º Fórum de Autoridades Locais, no Centro de Eventos do Plaza. O líder camponês deverá regressar a Paris no dia 3, para uma audiência na Justiça francesa. O ativista antiglobalização tornou-se réu e mundialmente famoso ao destruir lojas da rede
McDonald's e laboratórios de pesquisa sobre transgênicos.
Fernanda Crancio e Poti Silveira Campos
Agência RBS