Quase uniforme no diagnóstico de que é preciso mudar o modelo político e econômico nos países pobres, o público do Fórum Social Mundial se divide ao definir se a transição pode ser pacífica ou só se dará por meio do confronto.
Pedro Santana Rodríguez, sociólogo colombiano da Corporação Viva a Cidadania, foi intensamente aplaudido quando afirmou que o conflito não era a solução para seu país nem para a América Latina. A mesma platéia, reunida para assistir à conferência Como Mediar os Conflitos e Construir a Paz?, aplaudiu manifestações não-programadas de apoio às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e aos guerrilheiros zapatistas do México.
A organização do Fórum foi cobrada, por participantes, pela ausência de representantes dos zapatistas e pela ausência de representantes das Farc nas grandes conferências. Maria Luiza Mendonça, falando em nome da coordenação, explicou que os mexicanos foram convidados, mas não puderam romper o cerco formado pelo Exército em Chiapas. Santana foi o primeiro a reconhecer a dificuldade de chegar a um consenso sobre os conflitos armados. "Esse é um assunto polêmico, sobre o qual não temos acordo nesta sala. Estamos juntos sobre as demandas sociais e econômicas, mas não sobre a via para alcançá-las", explicou.
O brasileiro Samuel Pinheiro Guimarães, professor da Escola de Políticas Públicas e Governo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sustentou a tese de que não é violenta a reação à opressão. "A violência não parte dos oprimidos, mas das minorias que concentram o poder". Santana reforçou a crítica à guerrilha que chama de "insurgência" dizendo que se 80% das violações aos direitos humanos na Colômbia partem dos militares e paramilitares, outros 17% a 18% provêm dos grupos rebelados. Indagado sobre a origem dessas estatísticas, o sociólogo explicou que há entidades no país, como a Comissão Colombiana de Juristas, que se ocupam dessa contabilidade.
"Há mais radicalidade verbal nesse Fórum do que entre os insurgentes colombianos, que dentro de uma ou duas semanas devem se sentar para negociar uma saída pacífica para a situação do país", ironizou o sociólogo.
Santana aposta que, se essas conversações prosperarem, ainda há tempo hábil e condições políticas para evitar a implantação do Plano Colômbia. Em meio às divergências pontuais, houve uma unanimidade na conferência: a condenação do Plano Colômbia, um programa de combate ao narcotráfico e de pacificação da guerrilha financiado pelos Estados Unidos.
Marta Sfredo
Agência RBS