Músicas do mundo

A mestiçagem musical não é uma novidade, pois o jazz, o rock, a salsa ou mesmo o rai já eram o fruto sonoro do destino comum de povos que diferentes tipos de colonização obrigaram a viver juntos. Atualmente, as misturas musicais não mais a conseqüência de uma história colonial dolorosa. Assim, para o crítico inglês David Toop, o ato de nascimento da música moderna foi a descoberta por Debussy da música javanesa durante a Exposição universal de Paris, em 1900.

Entretanto, a expressão world music (traduzida por "músicas do mundo" ou "música do mundo") só se tornou um conceito genérico no início dos anos 1980. Ela foi em seguida retomada pelas gravadoras e vendedores de discos preocupados em reunir num mesmo selo músicas que freqüentemente têm muito pouca coisa em comum. Essa "mestiçagem musical" foi apresentada de modo que os consumidores a vejam como um dado novo e positivo, e até mesmo a figura amigável da globalização econômica, em forma das indústrias culturais.

A priori, as músicas do mundo deveriam agrupar o conjunto dos discos de música contemporânea e tradicional dos países estrangeiros ao do lugar onde são vendidos. Entretanto, as músicas populares anglo-saxãs são em geral encontradas nas categorias "pop-rock" ou "variedades internacionais", seja qual for o país em que se esteja. Esse tipo de classificação sugere igualmente que os cantos tibetanos, o rai argeliano, o tango argentino e o soukouss congolês são apenas variedades de um mesmo gênero musical, como o punk é uma variedade do rock, ou o be-bop uma variedade do jazz. A hegemonia da cultura musical anglo-saxã se vê assim reforçada. Ainda mais que músicos como Paul Simon ou Peter Gabriel são muitas vezes apresentados como os iniciadores de uma mestiçagem sem a qual músicas às vezes milenares seriam condenadas ao esquecimento e ao desaparecimento.

Seja como for, apesar da sua falta de fundamento musicológico, a expressão músicas do mundo entrou na linguagem corrente. Ela apresenta um setor econômico em crescimento, medido pelas vendas de discos, dos concertos e do lugar que lhe é concedido nos meios de comunicação. Mas, se é possível alegrar-se com o fato de que ela dá uma audiência mundial a músicos que, sem ela, não teriam alcançado a notoriedade, também é preciso denunciar a visão equivocada da mundialização das culturas que ela induz e sua tendência a reforçar os estereótipos. De fato, apenas sob a condição de não ignorar esses efeitos perversos e os motivos que as produziram, é que as músicas do mundo poderão realmente favorecer a descoberta de outros povos e culturas, e até mesmo uma melhor compreensão mútua entre povos que se ignoram.