“Nenhuma empresa no Brasil, nem no mundo, trabalha de maneira sustentável”. O diretor-presidente do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, Helio Mattar, é taxativo ao avaliar a situação atual da sustentabilidade no setor empresarial, no qual vigora uma “agenda de crescimento a qualquer custo, uma agenda agressiva demais, objetiva demais, racional demais”. “A única maneira de mudarmos isso é por meio do consumo consciente”, afirmou logo após sua primeira apresentação na Conferência Internacional 2005 — Empresas e Responsabilidade Social, nesta quinta-feira, em São Paulo. O evento, que vai até sexta-feira, é organizado pelo Instituto Ethos e pelo PNUD.
Mattar avalia que, mesmo com o poder de compra bastante restrito da maioria da população, é possível que o brasileiro priorize produtos de marcas que se preocupam com o desenvolvimento sustentável, independentemente do custo. “Uma pesquisa mostra que 20% dos consumidores já levam em conta, antes do preço, as ações de responsabilidade social e ambiental das empresas”, conta. Segundo ele, esse grupo não fica restrito às pessoas de maior poder aquisitivo. Cerca de 48% deles pertencem às classes A e B, 52% às C e D e 32% têm apenas o ensino fundamental.
Esse comportamento “consciente” do comprador é fundamental não apenas para incentivar ações de responsabilidade social e ambiental, mas também para permitir que as empresas consigam sobreviver trabalhando de maneira sustentável, segundo o diretor-presidente do Instituto Akatu. “O mercado é composto por uma série de atributos. Atualmente, outros atributos estão sendo introduzidos nesse meio, e a sustentabilidade é um deles”, defende.
Na abertura de sua apresentação, Mattar ressaltou a importância e a urgência da implantação de ações com vistas à sustentabilidade e à contenção do consumismo desenfreado. “Pela primeira vez na história, uma geração se defronta com uma perspectiva de futuro pior do que a da última geração. Hoje, nós consumimos 20% a mais do que o mundo é capaz de renovar. Se toda a população do globo consumisse como os países ricos, precisaríamos de quatro mundos, mas nós só temos um”, advertiu.
“[O Protocolo de] Quito já nasceu obsoleto. Não basta evitarmos a degradação, precisamos desenvolver ações para regenerar o meio ambiente”, completou Ricardo Young, presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos, que participou da plenária.