Em quatro anos o Fórum Social Mundial conseguiu mobilizar a atenção internacional com uma originalidade de iniciativa, método e execução que ninguém pode negar. Entretanto, o evento ainda não se tornou um interlocutor incontestável na cena mundial capaz de promover propostas inovadoras aos principais desafios contemporâneos para, em seguida, colocá-las em prática junto com organizações multilaterais e governamentais.
Depois de uma edição 2003 marcada por problemas de organização e dificuldades em concluir uma plataforma comum; e após um FSM 2004 em Bombai que também não conseguiu impor uma estratégia consensual, esta quinta edição, realizada em Porto Alegre entre os dias 26 e 31de janeiro, se apresenta como decisiva. O FSM 2005 anuncia questões de "formato" (já que o atual tem sido visto como obsoleto), a vontade de um "encontro menos elitista" (convidando grupos desfavorecidos e representantes de minorias), interrogações sobre as próximas edições (o FSM 2006 poderá ser realizado em várias cidades simultâneamente e o encontro de 2007 na África)… Ou seja, questões existenciais sobre a evolução do movimento que se preocupa com três aspectos: a utilidade, a eficiência e a durabilidade do evento.
O FSM deste ano se questiona sobre os principais assuntos que mobilizam a sociedade civil internacional, representadas pelas 2500 atividades organizadas em cinco dias pelas cerca de 2000 organizações reunidas em torno de 11 "Eixos temáticos". Podemos julgar isso lendo os títulos de alguns desses temas, como "Pensamento autônomo, reapropriação e socialização do conhecimento (dos saberes) e das tecnologias"; "Defendendo as diversidades, pluraridade e identidades"; "Afirmando e defendendo os bens comuns da Terra e dos povos - Como alternativa à mercantilização e ao controle das transnacionais"; "Paz e desmilitarização - Luta contra a guerra, o livre comércio e a dívida"; "Rumo à construção de uma ordem democrática internacional e integração dos povos"; "Direitos Humanos e dignidade para um mundo justo e igualitário"…
Este leque temático visa englobar um vasto campo de preocupações levantadas pelos movimentos sociais; movimentos ligados à educação, ONGs, associações e fundações humanitárias, assim como todos aqueles que, desde a fracasso da cúpula da OMC em Seattle em 1999, se esforçam para analisar e reavaliar os principais fatores da desordem mundial, mais também construir alternativas para prefigurar um outro mundo possível.
No entanto, essas questões não garantem que as "respostas" encontradas terão traduções políticas ou implementações concretas nas diferentes esferas (multilaterais, regionais, nacionais e locais). E isso independentemente da performance intercultural e transdisciplinar do evento em si. Independentes também de seu sucesso de audiência, sua popularidade e seu potencial de comunicação. Pois a única coisa construída até agora foi uma Torre de Babel na qual a arquitetura, os meios e os fins ainda são problemáticos. Mesmo com os esforços consideráveis da tradução simultânea assumida pela sociedade civil e, principalmente por uma associação de tradutores/intérpretes voluntários que leva precisamente o nome de… Babels!
Podemos até nos perguntar se a nova metodologia adotada pelo comitê organizador para esse FSM vai além do argumento retórico de uma fuga diante de responsabilidades muito mais restritivas do que a realização e o sucesso do evento em si. Quando o Comitê reivindica neste ano o fato de não ter proposto nenhuma atividade e, ao contrário, ter deixado a concepção e a gestão nas mãos das organizações participantes, podemos nos questionar sobre a natureza desta política tão informal e desarticulada que poderia perder o seu lado… político!
Quando observamos o simplismo histórico manifestado pela administração Bush em sua abordagem dos "negócios mundias", um simplismo ainda mais marcado desde o novo mandato do presidente norte-americano ao lado de sua conselheira Condoleezza Rice, podemos duvidar que o método mais apropriado para o FSM seja realmente a proliferação de milhares de ateliês com uma audiência limitada e dotados de um poder de informação do real igualmente modesto.
Certamente pode-se argumentar sobre esse ponto e dizer que essa é exatamente a ambição do Fórum: não entrar em uma lógica (géo)política normativa ou adotar uma simples postura de reação ao exercício matricial das relações de dominação instituídas, ou aos modos de governança multilaterais. Podemos dizer ainda que a pesquisa de sua própria via exige a paciência do conceito, mais também o tempo de deliberação e de negociação com a diversidade de atores relacionados.
Porém, infelizmente a agenda dos negócios mundiais para 2005 e para o futuro não pode esperar os resultados desse longo trabalho de decantação e elaboração. Ela está mais carregada do que nunca, e necessita sem demora de respostas convincentes e propostas estruturadas, pelo menos sobre problemas como o estabelecimento de uma paz sustentável no Oriente Médio, a mobilização em torno dos Objetivos do Milênio (atualmente em risco), as reformas da ONU e da OMC, e a retomada do Ciclo de Doha, além dos processos de integração regional em andamento, as ameaças à biodiversidade e as mudanças climáticas. Sem contar com a adoção pela UNESCO até o fim de 2005 de uma convenção restritiva sobre a preservação e a promoção da diversidade cultural.
E é sobre esses pontos que esperamos com urgência a voz clara e distinta do Fórum Social Mundial, que deve se preocupar mais com sua eficiência que com a sua estabilidade.