O tema da conferência era, oficialmente, "Como Fortalecer a Capacidade de Ação das Sociedades e a Construção do Espaço Público", mas o painel um dos quatro primeiros do Fórum Social Mundial acabou se tornando ontem (dia 26), em parte, uma autocrítica à atuação da esquerda. Um dos quatro palestrantes, o brasileiro Frei Betto destacou que os movimentos sociais e a esquerda precisam aprender a falar a linguagem do povo. Também defendeu o respeito à religiosidade popular.
Os movimentos sociais devem abandonar sua postura colonialista, prepotente declarou o frei dominicano Carlos Alberto Libânio Christo (seu nome de batismo), 56 anos, um conhecido líder de esquerda, autor de quatro dezenas de livros. Frei Betto também ressaltou a necessidade de a busca da igualdade começar dentro de casa. Um história contada por ele recebeu aplausos entusiasmados, especialmente da facção feminina da audiência.
O religioso lembrou que, certa vez, desafiou líderes de um sindicato a levarem as mulheres para discutir junto as lutas da organização. Os desafiados acabaram cedendo, mas não antes de desfiar frases pouco "igualitárias", do tipo "minha mulher fica em casa, já basta eu ir para a luta" ou "minha mulher não tem preparo suficiente para isso".
Outra palestrante brasileira, a socióloga e professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Mary Castro apontou o virtual esquecimento, em meio às dezenas de lutas a que se dedicam os movimentos de esquerda, de uma categoria de "excluídos": a dos imigrantes. Na maioria ilegais, são vítimas de discriminação e alvos freqüentes de deportação. Conforme ela, só os brasileiros vivendo no Exterior seriam pelo menos 1,5 milhão o fenômeno do êxodo em busca de melhores de vida
ganhou força no país a partir de 1985. A socióloga lembrou ainda o caso da Espanha, onde entrou em vigor esta semana uma dura lei antiimigração, e arrancou aplausos da platéia ao reproduzir a frase escrita em um cartaz de protesto de um
equatoriano ameaçado pelas novas regras espanholas: "Nossos documentos já foram pagos quando Colombo descobriu a América".
Sob a mediação do sacerdote e sociólogo belga François Houtard, o painel, com início marcado para as 8h30min de ontem, começou pontualmente, pelo horário brasileiro ou seja, com meia hora de atraso. Também participavam da mesa, como palestrantes, a canadense Diane Matte, dirigente da Federação das Mulheres de Quebec, e o sindicalista Park Hasson, representante da KCTU, a maior central sindical da Coréia do Sul.
Dono de um inglês deficiente, Park limitou sua intervenção a cerca de cinco minutos, por completa impossibilidade de se comunicar com o público. Depois, ele explicou que um colega traduziria seu discursos do coreano para o inglês, mas o feriado do Ano Novo Chinês atrapalhou os planos. Na platéia, o ex-jogador da Seleção Raí e o senador Eduardo Suplicy (SP), pré-candidato à Presidência da República, roubaram a cena.